O dia em que uma aula de história gerou controvérsia
No último mês de abril, um tradicional colégio na região metropolitana de Recife protagonizou manchetes em portais de notícias e nas redes sociais. A polêmica envolveu professor de história que tomou iniciativa controversa ao lecionar aula sobre a origem de Estados totalitários a alunos do 3º ano do ensino médio.
A controvérsia girou em torno da ambientação da sala de aula, decorada com bandeiras nazistas que exibiam a suástica, símbolo do regime chefiado por Adolf Hitler e responsável pelo Holocausto, cuja exibição é, inclusive, proibida em muitos países.
A aula foi fotografada e, posteriormente, objeto de publicação pela própria escola em sua página no Facebook.
Em decorrência de denúncias e comentários questionando a postura do professor ao exibir símbolos nazistas, a postagem foi apagada.
O episódio abriu espaço para divergências.
Houve quem considerasse que a conduta constitui crime a partir da perspectiva da legislação brasileira, repudiando a atitude do professor:
Outros consideraram a ideia do professor aceitável, alegando que ela não representava uma exaltação ao nazismo, mas apenas uma imersão para despertar a atenção dos alunos na aula e fazê-los estudar mais o assunto.
Houve também quem ponderasse os dois lados da história, destacando que o professor provavelmente não tinha a intenção de difundir a ideologia nazista, mas deveria ter utilizado outro método para tratar do assunto em aula.
O ocorrido despertou a atenção da comunidade judaica local, que emitiu nota oficial sobre o assunto, marcando inclusive reunião com a escola para melhor averiguá-lo:
“Fomos surpreendidos no dia de ontem (terça-feira, 11) por veiculação nas redes sociais de matéria sobre aula temática no Colégio Santa Emília abordando a origem dos estados autoritários. O ambiente escolar estava repleto de símbolos nazistas e o próprio site da escola se referiu ao evento como ‘super aula temática’. A Federação Israelita de Pernambuco está atenta ao fato e irá em busca de maiores esclarecimentos”
Após a grande repercussão da aula, a escola emitiu nota de esclarecimento oficial em sua página do Facebook, defendendo o professor e alegando que em momento algum ele fez apologia à ideologia nazista. Na nota, a escola esclarece que a aula teve como objetivo, na verdade, justamente o inverso – defender a democracia:
“O corpo administrativo e pedagógico da Escola Santa Emília – Unidade Cordeiro vem a público manifestar-se a respeito da postagem publicada nas nossas redes sociais sobre a aula do professor Luiz Fernando e tranquilizar pais, alunos e a comunidade que confia no trabalho realizado por nós.
1. A aula ministrada pelo professor de história, Luiz Fernando, cujo tema foi regimes totalitários, desenvolveu-se em um ambiente temático, com o intuito de torná-la mais dinâmica e interativa, oferecendo aos alunos uma experiência mais diferenciada.
2. Durante o decurso da aula, segundo relatos dos nossos alunos, em momento algum cogitou-se a possibilidade de defender, pregar ou incitar a ideologia do regime nazista. Pelo contrário, o professor trouxe à tona o horror dos regimes totalitários e o quanto é importante a democracia.
3. Os professores e equipes que compõem esta instituição não compactuam com valores que incitam o ódio, a violência e qualquer tipo de desprezo ao ser humano e outra forma de vida. Acreditamos, sim, como educadores, na potência de crescimento do nosso corpo discente e nos valores democráticos de direito.
4. Decidimos, de forma estratégica, excluir a postagem específica do Facebook, dados os comentários agressivos e lamentamos profundamente que a forma encontrada pelo professor para ministrar a aula tenha sido má interpretada.
5. Quanto às acusações de apologia à divulgação do nazismo, não merecem prosperar. Como já afirmamos e reiteramos, não apoiamos qualquer tipo de regime ou ideologia que coloque desprezo ao ser humano ou alguma forma de vida. No link abaixo, o Dr. Denes Menezes, advogado especialista em direito digital, publicou rapidamente em seu blog um artigo sobre o ocorrido, com base jurídica de referência, demonstrando não haver nenhuma ilicitude na aula do professor: http://www.dmjus.com.br/suasticas-crime-nazismo/.
6. Por fim, queremos agradecer ao apoio e a solidariedade dos pais e dos alunos sobre o ocorrido. De qualquer forma, também queremos pedir desculpas caso alguém tenha se ofendido devido à divergência da intenção do professor em ministrar a aula.
A Escola Santa Emília – Unidade Cordeiro novamente firma o seu compromisso com a educação, os valores democráticos e o respeito ao ser humanos. É dessa forma que acreditamos ser possível fazer do mundo um lugar melhor”
O conteúdo da nota recebeu apoio de muitas pessoas, inclusive de pais de alunos:
Por outro lado, houve quem seguisse condenando o episódio, como é o caso do portal “Mídia Ninja” que publicou matéria sobre o tema em seu site, relacionando-o com o movimento “escola sem partido”: