Imagem: Reprodução/Lojas Marisa

As Lojas Marisa veicularam, no último dia 12 de maio, um anúncio em sua página no Facebook referindo-se a um dos assuntos mais debatidos nos últimos dias: o depoimento do ex-presidente Lula ao Juiz Sérgio Moro como parte das investigações da Operação Lava Jato. A postagem dialogava com memes compartilhados por pessoas que interpretaram o depoimento do ex-presidente como uma tentativa de se absolver ao indicar que alguns atos foram realizados pela sua esposa, Marisa Letícia, falecida em fevereiro deste ano. Essa interpretação, longe de ser unânime, foi questionada e passou a ser disputada pelos diferentes grupos de usuários nas redes sociais.

O título da peça de Marisa divulgada em data próxima ao Dia da Mães dizia: “se a sua mãe ficar sem presente a culpa não é da Marisa”. No momento em que o debate político apresenta-se no noticiário de forma acirrada e binária, a peça encontrou um terreno fértil para se espalhar na rede. Normalmente, as postagens das lojas Marisa alcançam em torno de 1500 curtidas. A postagem em questão obteve mais de 24.000 reações entre curtidas, lágrimas, risos e raiva.

É fato que os consumidores hoje esperam que as marcas se posicionem diante das questões sociais relevantes, como sustentabilidade, empoderamento feminino, respeito à diversidade étnica e sexual. As marcas, como importantes instituições da sociedade contemporânea, podem se posicionar de forma livre e, estrategicamente, devem levar em consideração a imagem que constroem e querem ter perante seu público.

Essa não pareceu ser a proposta da marca em questão. Posicionar-se e ao mesmo tempo dar repercussão a uma interpretação enviesada que flerta com o discurso de ódio e com a cisão política do país de forma simplista, como através de um trocadilho, é diferente de defender uma causa.

O anúncio de oportunidade da Marisa, explorando a imagem de uma pessoa já falecida e uma interpretação questionável do depoimento, revelou muito mais elementos sobre a construção da marca do que talvez os seus gerenciadores esperavam. O tiro em forma de trocadilho saiu pela culatra. Logo após a postagem, espalharam-se pelas redes denúncias já comprovadas de trabalho escravo na confecção das roupas da marca. No dia em que a postagem foi veiculada, as ações da loja caíram cerca de dois e meio por cento.

Vale a pena refletirmos sobre o impacto da comunicação publicitária no debate público visto que essa é uma atividade eminentemente comercial e que, aparentemente, por apresentar um discurso interessado, não precisa atentar às noções de verdade e credibilidade. Um aspecto, porém, a ser levado em consideração e que tem sido cada vez mais exigido pelo público consumidor é a respeitabilidade. No caso desse anúncio da Marisa isso claramente faltou. E sim, essa culpa é das Lojas Marisa.

Glícia Maria Pontes Bezerra

Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (2004), mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2007) e doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (2015). É docente da Universidade Federal do Ceará desde agosto de 2006. Tem experiência na área de comunicação, com ênfase em publicidade e propaganda, atuando principalmente nos seguintes temas: publicidade, regulação, discurso e hegemonia.