O dia em que a sexualidade virou manchete
No dia 12 de março, a manchete de uma notícia da Folha gerou muita polêmica. A reportagem, então intitulada “Rigoroso, homossexual assumido, quer ser história no TSE”, envolvia o Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Herman Benjamin, relator do processo contra a chapa presidencial de Dilma Rousseff e Michel Temer por abuso de poder político e econômico. Na versão impressa, a notícia saiu com o título “Ministro que julga Dilma e Temer quer chegar ao Supremo” e subtítulo “Rigoroso e homossexual assumido, Herman Benjamin quer fazer história com ação que pode cassar o presidente”.
A notícia continha especulações sobre o seu voto e apresentava informações sobre a carreira e a vida pessoal do ministro, mencionando até alguns de seus hábitos alimentares. Ainda que explorasse diversos aspectos da vida pessoal de Herman Benjamin, a manchete optou por colocar em evidência a homossexualidade do Ministro, fato que é mencionado de forma pontual no final da reportagem. Na passagem, as jornalistas responsáveis pela notícia afirmam que Herman Benjamin é admirado por ser assumidamente homossexual em um ambiente conservador como o do Judiciário.
A explicitação da sexualidade em locais de maior destaque na notícia foi alvo de diversas críticas nas mídias, sobretudo de defensores da pauta LGBTI, que afirmaram haver discriminação no modo com que a questão da sexualidade seria trazida à tona no caso de juízes heterossexuais. Em outras palavras, enquanto a heterossexualidade não estampa manchetes, pois seria interpretada como aspecto irrelevante para a atuação de juízes, a homossexualidade seguiria sendo digna de notícia.
Houve, por outro lado, quem ficou surpreso e comemorou a notícia.
Houve, também, quem argumentou que o problema foi enfatizar a homossexualidade do Ministro na manchete, mas sem discutir profundamente o conservadorismo do Judiciário.
Mas há, além disso, quem defenda as jornalistas, dizendo que a manchete não ofende ninguém e contribui para a visibilidade dos LGBTIs.
Com a polêmica gerada, a Folha alterou a manchete da versão digital da notícia para “Rigoroso, ministro que julga Dilma e Temer quer chegar ao Supremo”.
Ainda assim, continuou recebendo críticas por destacar, no texto, a homossexualidade do Ministro.