Vigiar e punir nas redes sociais
Enquanto a internet atinge recorde de influência entre eleitores, políticos se movem para tentar censurá-la
Pela primeira vez no Brasil a internet é listada numa pesquisa como o veículo de maior influência para eleger um presidente. Segundo dados do Ibope divulgados em junho, 56% dos potenciais eleitores dizem que as redes sociais terão algum grau de influência na escolha do seu candidato presidencial na próxima eleição, em 2018. Para 36% elas terão muita influência. Com isso, os serviços alcançam uma inédita primeira posição como os maiores influenciadores numa eleição, empatados com a mídia tradicional (TVs, rádios, jornais).
Isso não é inesperado para quem acompanha o setor. Nas campanhas eleitorais de 2016, o próprio Ibope já mostrava que, pela primeira vez, a maioria absoluta dos eleitores brasileiros se informava sobre política pelo Facebook, Twitter e Whatsapp. Ou seja, não apenas cada vez mais eleitores recebem informações sobre política via redes sociais, mas também eles consideram essas informações importantes na hora de decidir em quem votar. Um dos primeiros grupos a reconhecer esse movimento, os políticos, reagiram a ele de maneira não muito nobre: tentando controlar e muitas vezes censurar esse fluxo de conteúdo.
Desde as eleições municipais de 2012, as redes sociais viraram o alvo preferencial dos políticos brasileiros: são rés na maior parte dos processos de retirada de conteúdo do ar. O projeto Ctrl+X, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), contou (de 2012 até o momento em que escrevo este texto) 1.759 ações de retirada de conteúdo partindo de políticos. Dessas, 1.027 (58%) eram direcionadas a duas empresas: Facebook e Twitter. Se acrescentarmos a esse dado requisições parar retirar vídeos do Youtube — muito compartilhados nas redes sociais —, temos que dois terços de todos os pedidos de remoção de conteúdo feitos por políticos se destinam a esses meios.
O número assusta e mostra que, especialmente nos meses de campanha pré-eleição, os candidatos tentam montar uma estrutura de vigilância e litigância para impedir que qualquer informação negativa sobre eles seja propagada nas redes sociais. Quanto mais o eleitor se informa e decide o seu voto influenciado por meios como Facebook, Whatsapp e Twitter, mais os políticos tentam controlar a narrativa e impedir que informações de cunho negativo sobre eles cheguem à sociedade.
Essas tentativas de cerceamento da liberdade de expressão são facilitadas pela grande concentração nesse mercado. Em vez de ir atrás de cada autor de postagens negativas feitas no Facebook, no Instagram e no Whatsapp, o político atingido simplesmente abre um processo contra o Facebook, empresa que controla todos esses canais, e pede para que todas as postagens sejam removidas — em boa parte das vezes sequer aciona ou identifica o autor da postagem. O mesmo ocorre com Google e Twitter que, somados à empresa de Zuckerberg, detêm as plataformas por onde passa a maior parte do conteúdo que compartilhamos nas redes sociais.
Esse cenário requer, portanto, atenção redobrada às garantias de liberdade de expressão. Vistas como espaço de troca livre de informações, as redes sociais são alvo constante de milhares de tentativas judiciais para determinar qual notícia pode ou não chegar até nós.
Quando esse cerceamento prospera — e registramos centenas de casos nos quais isso acontece —, o ambiente democrático fica prejudicado. Um eleitor para o qual são sonegadas informações tende a tomar decisões piores. Quanto mais as redes sociais crescerem em importância na distribuição de notícias políticas e na influência sobre o eleitor — e tudo indica que esse movimento continuará nos próximos anos —, maior é o risco de que um controle sobre esse conteúdo se transforme também em um controle sobre a democracia.