2018: nervosismo à flor da pele
O ano de 2018 será “nervoso”, já profetizou a revista The Economist, em sua bem elaborada edição que circulou na primeira semana de dezembro. A expressão “ano nervoso” parece ter sido cunhada sob medida para definir a realidade brasileira para os próximos 12 meses.
Nesse contexto, o universo das notícias falsas e tudo que está em sua órbita representam um desafio especial. As chamadas fake news ocuparão o centro de gravidade das discussões políticas: precisam ser combatidas para que não confundam ou induzam a sociedade ao erro. No entanto, esse combate não pode, de maneira alguma, ameaçar a liberdade de expressão. Pelo contrário, por ser um ano eleitoral, será necessário contar com espaços livres para o debate e com ainda mais liberdade para que os candidatos, a todos os cargos, nas mais diversas esferas de poder, possam expor suas ideias de forma clara e transparente, e o eleitor, por sua vez, possa, sem medo, fazer suas escolhas.
É neste cenário que ações recentes lideradas pelo TSE, como a criação de uma força-tarefa, que tem o objetivo de propor medidas para conter a disseminação de conteúdo falso nas eleições de 2018, assim como declarações recentes de parlamentares, trazem grande preocupação.
O combate à disseminação de conteúdo fraudulento no período eleitoral não será tarefa fácil e necessitará de um esforço conjunto entre plataformas digitais, veículos de comunicação e órgãos de fiscalização, como foi amplamente demonstrado por diversos participantes durante seminário realizado pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional no último dia 12 de dezembro.
Exemplos de coalizões e parcerias como a Cross Check Collaborative Journalism Project, que teve um papel fundamental na desqualificação de notícias falsas nas eleições da França, juntamente com projetos de verificação de notícias como o The Trust Project, aqui no Brasil chamado de Projeto Credibilidade, terão papel fundamental no próximo ano e poderão contribuir de forma eficaz para o combate ao conteúdo fraudulento nas redes sociais, sem que a liberdade de expressão sofra restrições ou corra riscos.
Ações de educação midiática e informacional também se fazem necessárias no combate à disseminação de notícias falsas, sem contar o esclarecimento de que somos todos responsáveis e o convencimento para que os cidadãos não compartilhem conteúdo não checado ou que possam causar danos a candidatos, partidos, empresas ou até mesmo aos cidadãos comuns.
Outros temas que dividem a sociedade também tendem a continuar em pauta, como, por exemplo, o direito ao esquecimento, a intolerância, o racismo, a homofobia, o preconceito e a censura, contribuindo para que o nervosismo em torno do debate de ideias ganhe ainda mais força.
Por outro lado, haverá tempo, também, para que se dê atenção aos aspectos positivos da galáxia da Internet, como a velocidade na difusão dos acontecimentos, a exigência de atitudes éticas por parte das organizações públicas e privadas, e a integração do mundo em uma colossal aldeia global.
Uma nova geração entrará em cena e, em breve, os jovens, graças à educação digital, saberão distinguir o que é uma notícia falsa de uma verdadeira, o que é conteúdo noticioso do patrocinado, o que é opinião de matéria jornalística. Otimismo excessivo? Espero que não. As mídias sociais estão aí para demonstrar. São antissociais na medida em que contribuem para a polarização social, para o discurso de ódio e para a praga das notícias falsas. Mas isso tende a passar com o tempo e com a experiência. Afinal, os critérios para construir a credibilidade e a confiança não mudaram com a tecnologia e continuam os mesmos da era de Gutemberg.
A contrapartida positiva, porém, é uma nova fase da história social da mídia, da liberdade de expressão. E essa, cedo ou tarde, será das mais construtivas. Em 2018 as muitas faces das mídias poderiam ser resumidas em poucas palavras: culto à liberdade. Em verdade, um maravilhoso tema para se discutir e levar à prática no dia a dia. Cotidianamente.