No começo do mês, o ator global José Mayer voltou às manchetes do país – mas, dessa vez, por acontecimentos que se desenrolaram fora das telas.  

A figurinista Su Tonani tornou pública denúncia de assédio contra o ator ao publicar no blog #AgoraÉQueSãoElas da Folha de S.P. No texto, ela relata uma série de constrangimentos causados pelo ator no ambiente de trabalho pelo período de 8 meses até que os acontecimentos fossem levados ao setor de RH da Rede Globo.

E toda essa história, realmente, deu o que falar.

Horas depois da publicação, o post foi retirado do ar pela Folha por desrespeitar “o princípio editorial da Folha de só publicar acusação após ouvir e registrar os argumentos da parte acusada, salvo nos casos em que isso não for possível”.

O assunto chegou a ser tópico de discussões a parte:

O texto de Su Tonani voltou ao ar no mesmo dia, após a publicação de reportagem que concedeu espaço para a manifestação de José Mayer. O ator negou as acusações: “Respeito muito as mulheres, meus companheiros e o meu ambiente de trabalho e peço a todos que não misturem ficção com realidade“.

A denúncia causou uma avalanche de críticas ao autor, inclusive daqueles que entendiam não ser possível justificar a conduta de José Mayer com base em uma “diferença de mentalidade entre gerações”:

O caso levou ao fortalecimento da campanha #Mexeucomumamexeucomtodas ao engajar atrizes, congressistas e jornalistas.

Houve, também, quem aproveitou para debater a configuração jurídica da conduta de Mayer:

Em meio à polêmica, José Mayer pronunciou-se sobre o caso por meio de uma carta em que admite ter errado, pedindo desculpas:

Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:

Eu errei. Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava. A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora

Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.

Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, nao sou.

Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.

Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.

Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.

A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.

Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.

Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.

O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.”

Sobre a confusão alegada pelo ator entre realidade e ficção, muitos não concordaram:

Houve, além disso, críticas à emissora televisiva:

Diversos atores e outras personalidades de destaque na mídia se posicionaram, havendo quem criticasse o ator e quem relativizasse a sua conduta:

A atriz global Letícia Sabatella afirmou já ter passado por situação parecida.

Após um comentário do ator Caio Blat sobre o caso, a polêmica cresceu ainda mais:

Mais pessoas se pronunciaram, dessa vez para condenar o posicionamento de Caio Blat:

Até o Sensacionalista pronunciou-se:

Após a polêmica, o ator foi afastado indefinidamente das telas pela Rede Globo.

* A equipe Dissenso.org agradece a Lia Poggio pelas contribuições ao texto